quinta-feira, 30 de agosto de 2007

o programa de tv

a aldeia foi ao programa da manhã e a pobre senhora foi incluída na embaixada. ia toda gaiteira para uma manhã de fama. deslumbra-se. a meio do programa solta-se-lhe a língua. fala de assuntos de família como se estivera na solaina entre amigas.
hoje, ninguém lhe fala.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

o parto

foi ter a criança. ao terceiro dia deram-lhe alta, com um belo cachopo no colo.
chegou a casa e encontrou o marido na cama com a amante.
dizem que o parto lhe subiu à cabeça.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

heróis-do-milho

confesso a minha perplexidade. um grupo de pseudo-ambientalistas resolveu implicar com uma plantação de milho transgénico. podia ter implicado com coisa mais substancial, sei lá, o atentado quotidiano ao cordão das dunas, a invasão diária das reservas florestais. não. uma plantação de milho transgénico, das centenas ou milhares espalhadas pelo país, dá mais nas vistas. não vão chatear as empresas que produzem as sementes nem nada assim. vão chatear um agricultor isolado. invadem-lhe a horta e destroiem-lhe a plantação. assim, sem mais nem menos.
não percebo nada de ambientalismo, nem de milho transgénico, mas cheira-me a uma nova religião. fico a pensar: é isto a democracia e o estado de direito?
que tem o milho transgénico de diferente da clonagem e da fecundação artificial? será que os heróis-do-milho vão agora atacar as clínicas de fecundação in vitro e coisas que tais?
tenho dificuldade em entender esta coisa de ambientalismo. alguém me explica o que é e como é que funciona?

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

uma gaiola de ratinhos

deixam os filhos no quarto, sozinhos, e vão jantar com amigos. são gente dessa. segundo os costumes de elite, as suas crianças não vão com os papás ao restaurante. talvez nem seja permitido, no evoluído país de onde provêm. as crianças fazem barulho, choram, partem os copos, entornam a sopa, estorvam o garçom, não deixam os adultos falar calmamente. no decorrer do jantar causam vexame aos papás. teriam de levar um pequeno tabefe, sei lá. e aí, os lindos papás não teriam coragem de enfrentar os olhos em redor, que, aliás, já tinham o cenho cerrado pelas traquinices anteriores.
mas entre os mais evoluídos cidadãos daquela terra de elite, que não aprecia essas intimidades de família, parece não ser costume alternativo deixar as crianças com a baby sitter. suponho que seja caro. afinal, vão só ali jantar e já vêm. coisa pouca. os pequenos estorvos ficam a dormir no quarto, transformado numa gaiola de ratinhos.
mas a partir dos três anos as crianças são curiosas, inconformistas, detestam gaiolas e assim. e quanto mais inteligentes mais detestam. facilmente lhes vem à ideia fugir para a grande floresta. onde mora o lobo mau desde o princípio dos tempos.
a culpa não é dos pais. eles são de um país onde a culpa não existe e a maldade é dos outros.
aqui, no meu país, deixar os putos no quarto e ir jantar nas calmas com amigos é negligência grave.
se uma criança assim desaparece ou morre, os pais caiem no poço da justiça. e logo um mar de psicólogos, assistentes e técnicos sociais lhes vem em cima, sem dó nem piedade. chamam-lhes incompetentes e talvez até os façam perder a tutela dos ratinhos que ficaram.

naquele país não é assim.
é por isso que, afinal, sempre gosto mais do meu país.