sexta-feira, 21 de setembro de 2012

bom para a tosse

há doentes que me aparecem carregadinhos de medicamentos, tantos, tantos, que quase não há horas no dia que cheguem para os tomar. não, não é "apenas" excesso de zelo médico, é muitas vezes o gosto ou a necessidade de recorrer a médico atrás de médico e essa coisa muito portuguesa de juntar a medicação do último médico às medicações dos médicos precedentes. de jeito que, às vezes, depois de um cuidadoso inquérito a tudo o que realmente o doente toma, é preciso suspender uma série de medicações inúteis, porque repetidas, ou prejudiciais no meio de tanta interação farmacológica. não é tarefa fácil. à uma, porque o mais certo é que o paciente vá juntar a minha prescrição à prescrição dos colegas que me precederam; à outra, porque o doente se pode sentir desamparado pela suspensão de medicamentos que tinha por essenciais ao seu bem-estar e à sua permanência no mundo dos vivos.
de jeito que às vezes me dá vontade de brincar, de me impor pelo absurdo. pego numa caixa de comprimidos e noutra e noutra, e digo ao paciente : " - olhe, estes remédios são muito bons para a tosse..."
é costume olharem para mim com ar surpreso e confuso:
" - para a tosse, doutor?..."
" - sim, para a tosse. se tomar estes medicamentos todos os dias e como deve ser, em morrendo não tosse mais..."

a maioria entende e ri-se. e os que não entendem é certo e sabido que juntam a minha medicação à que já estavam a tomar.

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