sexta-feira, 10 de agosto de 2007

uma gaiola de ratinhos

deixam os filhos no quarto, sozinhos, e vão jantar com amigos. são gente dessa. segundo os costumes de elite, as suas crianças não vão com os papás ao restaurante. talvez nem seja permitido, no evoluído país de onde provêm. as crianças fazem barulho, choram, partem os copos, entornam a sopa, estorvam o garçom, não deixam os adultos falar calmamente. no decorrer do jantar causam vexame aos papás. teriam de levar um pequeno tabefe, sei lá. e aí, os lindos papás não teriam coragem de enfrentar os olhos em redor, que, aliás, já tinham o cenho cerrado pelas traquinices anteriores.
mas entre os mais evoluídos cidadãos daquela terra de elite, que não aprecia essas intimidades de família, parece não ser costume alternativo deixar as crianças com a baby sitter. suponho que seja caro. afinal, vão só ali jantar e já vêm. coisa pouca. os pequenos estorvos ficam a dormir no quarto, transformado numa gaiola de ratinhos.
mas a partir dos três anos as crianças são curiosas, inconformistas, detestam gaiolas e assim. e quanto mais inteligentes mais detestam. facilmente lhes vem à ideia fugir para a grande floresta. onde mora o lobo mau desde o princípio dos tempos.
a culpa não é dos pais. eles são de um país onde a culpa não existe e a maldade é dos outros.
aqui, no meu país, deixar os putos no quarto e ir jantar nas calmas com amigos é negligência grave.
se uma criança assim desaparece ou morre, os pais caiem no poço da justiça. e logo um mar de psicólogos, assistentes e técnicos sociais lhes vem em cima, sem dó nem piedade. chamam-lhes incompetentes e talvez até os façam perder a tutela dos ratinhos que ficaram.

naquele país não é assim.
é por isso que, afinal, sempre gosto mais do meu país.

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