terça-feira, 27 de novembro de 2007

adeus, mãe

quem é que estava à espera disto?
bem sei que a lei da vida é cruel e cega.
não vamos esquecer-te.
adeus, mãe.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

o cozinheiro do Grande Hotel

um Tribunal de Apelação confirmou a sentença do juiz de 1ª Instância, que absolvia um hotel do crime hediondo de despedimento de um cozinheiro seropositivo. e patati-patatá, um país do terceiro mundo, uma vergonha nacional, a cauda da Europa e assim por diante.
eu, por mim, agradeço à Justiça portuguesa a prova de bom senso que acabou de dar, não embarcando no pensamento politicamente correto. é que o caso não é assim tão simples.
em primeiro lugar, o seropositivo é cozinheiro e, que diabo!, um cozinheiro de hotel seropositivo é um golpe de morte no prestígio de qualquer unidade hoteleira. adorava ver essa gente prafrentex ir toda a correr ao dito hotel exigir um jantar preparado pelo senhor cozinheiro seropositivo. quando essa manifestação de solidariedade e confiança na saúde pessoal e pública acontecer, pronto, calo-me, já cá não está quem falou, estamos num país do primeiro mundo, seja lá isso o que for.
é que, se não forem, é porque a conversa é só da boca pra fora, mais nada. serão tão medrosos e tão preconceituosos como aqueles que assumem ter medo ou desconforto de uma tal situação. e serão um bando de hipócritas bem pensantes, do género não há perigo nenhum, é uma discriminação, mas ir lá é que eu não vou. serão hipócritas e um bando de irresponsáveis.
em segundo lugar, o homem não é apenas seropositivo, está doente, teve tuberculose, enfim, aquelas coisas que acontecem a quem já não é só seropositivo.
em terceiro lugar, a discriminação está em ser só o seropositivo, presumo para o VIH (já que há outras seropositividades), o alvo deste pensamento antidiscriminatório. porque nunca vi ninguém falar ou indignar-se por se despedir um cozinheiro com febre tifóide, tinha, hepatite, tuberculose, lepra, bicha solitária ou sarna.
em quarto lugar, foi um médico à televisão explicar que, vocês sabem, a coisa não se transmite, se se transmite é muito raramente, e se mesmo assim se transmite, tem um tratamento que consiste em reduzir a virémia, melhorar a qualidade de vida, reduzir o risco de contágio, essas coisas todas. logo - remata -, o nosso cozinheiro seropositivo merece uma compensação, merece ser ressarcido, merece uma indemnização. pois. mas, então, em que ficamos: o homem não pode ser discriminado porque não tem doença, ou se tem doença não é uma doença grave, ou, se é uma doença grave, é uma doença de luxo - e, então, tem que ser readmitido, ponto final e acabou; ou o homem não pode ser readmitido porque, enfim, tem uma doença que se pega, do género eu pelo menos não ia comer a esse hotel, e o patrão tem razão em despedi-lo, só que sem justa causa, já se vê, isto é, tem que o indemnizar?
e quando é que levamos a sério o VIH?

sábado, 17 de novembro de 2007

o aquecimento global

está frio, mas não me queixo. afinal, quanto a isso de frio, é tempo dele. tamém, aqui há dias, estava um belo verão de são martinho e já se dizia por aí que vinha a fim-do-mundo a cavalo no aquecimento global. afinal, o aquecimento foi-se embora e ficou este frio de rachar.
é que agora, em questão de tempo meteorológico, não pode estar coisa nenhuma: se está frio, é o aquecimento global; se está calor, é o aquecimento global; se chove, aqui d'el rei, é o aquecimento global; e se não chove, imaginem só! , é o aquecimento global.
e pensava eu que o planeta era um organismo auto-regulado, capaz de responder às mordeduras do insignificante ser humano. mas não, o planeta está de cócoras, k.o.: todos os dias chegam provas provadas de que o planeta faliu. já não há nada a fazer: aqueceu e pronto. vale mais encomendarmos todos as nossas alminhas a Deus e esperar pola derradeira hora, calmamente. sem pânico.
qual quê! os montes estão cheios de ventoínhas da energia eólica, os campos fervem de milho e outras alpistas para biodísel, anda tudo numa fona a descobrir o seu nicho de negócio. não há sinais de que seja um investimento terminal. antes parece que a coisa promete rendimento.
à noite, olho pela minha janela e vejo o contorno das montanhas desenhado com as luzinhas vermelhas das eólicas. vou na auto-estrada e as ventoínhas lá estão a produzir energia e tamém a ventilar o ar, a arrefecer o ambiente escaldante deste inverno frio.
é claro que penso: é melhor assim do que aquela fumarada das cidades industriai; deve ser aborrecido, deve ser mesmo tóxico viver numa cidade cheia de fumo industrial. mas que diabo!, onde já se viu um planeta moribundo ser motivo de tanto movimento de negócio e desenvolvimento industrial?
fico a pensar: estas coisas estão ali por causa do aquecimento global, ou o aquecimento global está aqui por causa desta movimentação económica nouvelle vague?