segunda-feira, 1 de julho de 2013

Poemas dos anos 90 - (6)

Poema 6

"não sei de melhor remédio para a dor
que não ter dor.
não tenho sono nem deixo de ter.
antes quero estar assim,
meio a não ser,
entre dormir e não dormir,
entre falar e estar calado,
entre sonhar e ser sonhado...
e se a minha poesia
te perturba,
deixa-me em paz
e vai dar uma curva".

José Cunha-Oliveira

Poemas dos anos 90 - (5)


Poema 5

tenho muito mais fome
do que um home
e 'inda só passaram dez minutos
desde a última vez que pensei nisso.
não te preocupes
porque não tens nada com isso.
se te doi a cabeça
deixa de ler
até que esqueça.


José Cunha-Oliveira

Poemas dos anos 90 - (4)

Poema 4 

"apetece-me presunto com melancia
mas para fazer o molho
era preciso
não me ter esquecido da almotolia.
sendo assim,
saia uma sande de presunto.
ou tu me respondes
ou eu pergunto.
vai dar uma volta ao bilhar grande,
enquanto eu trato da verruga
do ti Alexandre.
ó pai!...
não está bem? então não sai,
e não chateies ninguém.
'tá mal?
ora lê lá a poesia,
lê lá...

José Cunha-Oliveira

Poemas dos anos 90 - (3)

Poema 3

"tenho um poema muito sério
para fazer,
mas isso é um grande problema,
pelo menos para mim.
a bem dizer,
não sei se hei de dizer
aquilo de que me vou esquecer
ou se me hei de esquecer
daquilo que vou dizer,
porque diga ou não diga
doi-me na mesma a barriga.
pensei melhor...
vou ficar calado
e fazer um poema só pensado.
assim tu lês
e penses o que pensares
tanto faz que aceites como não
porque o poema não é meu
é teu..."

José Cunha-Oliveira

Poemas dos anos 90 - (2)

Poema 2

"não me lembres qu' eu existo.
deixa-me 'tar
o pensamento qu'eto.
não me mexas nos botões do abstrato,
deixa-me ficar apenas só,
concreto.
fazes-me lembrar qu' existo.
tenho uma picada num braço
ou comichão num pé.
apetece-me mais um prato de puré e meio
ou um frango de churrasco.
não sei se rima se não,
mas vai muito melhor com um pão.
e com três cálices de tinto
sentir-me-ia melhor do que sinto...
tenho comichão aqui,
ficas aí ou vens cá?
já está.
ora lê lá..."



José Cunha-Oliveira

Poemas dos anos 90 - (1)



Poema 1

"não vou fazer nenhum poema sobre nada.
para qu'eta e calada.
deixa-me ouvir aquela cambada
de zés-ninguéns
a fazerem nada
ou a fazerem de conta
que não fazem nada.
quero qu' eles façam
muito mais do qu' eu.
'tou cheio de preguiça
não sei se fique aqui
se vá à missa.
pensando bem,
prefiro ficar aqui
a correr atrás de ti,
à espera que me apanhes".

José Cunha-Olveira