sábado, 14 de setembro de 2013

os independentistas maus e os bons independentes

de um modo geral, salvo honrosas e escassas exceções, a imprensa, a blogosfera e as "redes sociais" estão um susto. incomentáveis. de entre o que hoje li, vi e ouvi, apetece-me falar de uma espécie de opinião, segundo a qual "a independência da Catalunha não é um problema de Espanha, mas sim europeu, logo nosso, e um sinal da arrogância dos ricos em relação aos mais pobres".
compreendo. a Espanha não é uma manta de retalhos histórica, linguística e cultural como a Jugoslávia, nem pensar nisso. logo, a Croácia, a Eslovénia, a Bósnia e a Macedónia (Skopje) não deveriam também ser independentes. sobretudo a Eslovénia e, à escala, evidentemente, a sua "arrogância de rica". além disso, tal como na Jugoslávia, em que os novos estados independentes não têm fronteiras naturais entre si, em Espanha também não existem fronteiras naturais (seja isso o que for) com nenhuma das realidades nacionais presentes no Reino e, vejam lá, também não as tem com Portugal, que, por sua vez, tem um direito à independência que as outras realidades nacionais de Espanha (quer dizer, da Península Ibérica) não têm.
já quanto à arrogância dos ricos em relação aos mais pobres, como uma excelente razão para não se ser independente, acho que está na hora de os estados mais pobres da Europa retirarem a independência à Alemanha, à Suécia, à Noruega, à Dinamarca, à Finlândia, ao Luxemburgo, à Bélgica, à Holanda, sei lá.
e então, sim, ficava tudo a bater certo e exterminava-se a arrogância dos ricos em solo europeu. finalmente, não nos compete a nós pronunciar-nos sobre uma questão que só diz respeito a um único povo: o Catalão. nem tampouco aos restantes espanhois. a independência não se dá, conquista-se. e não me consta que os "espanhois" fossem ouvidos a respeito da independência de Portugal. os catalães querem ser independentes? estão no seu pleníssimo direito. tudo o mais só depende deles.

uma nota final:
é curiosa a argumentação segundo a qual os povos ricos não têm direito à independência porque têm o dever de solidariedade com o todo do qual se querem separar. é que se o povo for pobre também não tem direito à independência porque tem falta de "viabilidade económica". isto é, ninguém tem, pelo menos hoje, o direito a autodeterminar-se e a ser independente. assim como está é que está bem. ou seja, conservadorismo radical. já agora, o que significa, afinal, ser independente no contexto europeu? no caso da Catalunha, do País Basco, da Escócia, entre outras realidades novas que se perfilam no horizonte, não significará tanto o desejo de isolamento e auto-suficiência, mas a vontade de participar de direito próprio e em igualdade de circunstâncias com os restantes estados europeus no projeto da União Europeia, sem a intermediação de realidades políticas que os exploram e oprimem.