segunda-feira, 10 de setembro de 2007

os mccannismos da mente humana

não é fácil reconhecermos que o bem e mal são pólos de uma mesma dimensão, que todos nós somos heróis e vilões, santos e pecadores, juízes e criminosos, médicos e doentes. já o diz o refrão, "de médico e de louco temos todos um pouco". apenas reconhecemos como nosso o lado bom, a parte apresentável de nós mesmos. nós somos a persona (*), a máscara, a maquilhagem que pomos para que não nos vejam os pôdres, o lado mau da nossa natureza. todos queremos ficar bem no retrato. todos queremos dar a melhor imagem de nós mesmos. e no entanto, por mais que o escondamos e o reprimamos, o nosso demónio interior está lá, à espera da primeira ocasião, do primeiro descuido, para vir à superfície. entre o respeitável senhor e o criminoso medeia a ocasião. já o diz o povo: "a ocasião faz o ladrão". ou "no melhor pano cai a nódoa".
perdemos o sentido, que em tempos já foi nosso, da convivência cósmica entre o bem e o mal. perdemos a consciência de que todos nós alimentamos o bem e o mal no segredo do nosso ser. hoje, tendemos a separá-los, tendemos a ver o bem e o mal como coisas independentes e concretas. o resultado é que, como dizem Bin Laden e George W. Bush, o bem sou eu e o mal é o outro. até descobrirmos, num dia de pesadelo, que, se nós somos o bem, somos também o mal. basta surgir o momento favorável.
para passarmos de heróis a vilões, de santos a pecadores, de respeitáveis senhores a criminosos medonhos, basta um só momento de descuido, um só momento fatal, em que o vulcão reprimido entra em erupção e o diabo interior nos desfigura. uma orgia, uma droga, uma simples bebedeira, talvez tudo a um só tempo, e fazemos aquilo que não quereríamos fazer, que temos o cuidado de nunca fazer e de nem sequer admitir. talvez nem saibamos que o fizemos, tal o efeito do álcool, da droga, da orgia ou das três coisas. ou, se sabemos, nunca o poderemos aceitar, tão hediondos nos apresentamos diante de nós mesmos.
daí a negação absoluta e genuína dos nossos próprios crimes. que pode tomar a forma de uma cortina de fumo que, mais do que qualquer outro resultado, nos impeça de ver o que nós realmente somos. da construção de uma confabulação mais ou menos genial, que nos cai em cima e nos destrói para sempre, sem apelo nem agravo.
todos podemos estar nesse lugar. é uma hipocrisia não pensar assim. mas pior ainda é não assumirmos os crimes que o nosso mal pratica.
sejamos nós, com ou sem razão, os protagonistas arguidos de um caso público, ou sejamos simplesmente espectadores do circo mediático que lhe faça companhia.


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(*) persona. do latim "máscara". deu a palavra "pessoa" em português, nas línguas novilatinas e em inglês.