sexta-feira, 23 de maio de 2014

o Peixoto

a bem dizer, o peixinho vermelho não é meu, é da minha mais nova.
mas como ela só lhe liga para o ter, mais nada, sou eu que lhe dou de comer.
e até já lhe dei o nome: é o "Peixoto".
quando não tem fome não me liga nenhuma, anda pelo aquário como se nada fosse.
não sei se tem pensamentos ou sonhos ou ideias. não faço ideia do que lhe vai na cabeça. sei que se o chamo - "Peixoto!" - ele vem ter comigo e abre a boca como se quisesse falar.
parece ouvir-me atentamente. se entende ou não, é outra coisa.
mas quando está com fome, se me vê, fica excitado, mexe-se com vigor e determinação, parecendo pedir-me: "dá-me!"
vou buscar a latinha daquela mistela de asas de insetos e outras porcarias que ele adora, e logo se prepara para a refeição.
há dois dias que não lhe dava de comer.
hoje viu-me e ficou doido, pôs-se a fazer piruetas, parafusos e lúpingues. dei-lhe de comer. e continuou a fazer piruetas, parafusos e lúpingues. pensei: "está doido!"
afastei-me a ver no que dava. o espetáculo terminou.
era mesmo para mim toda aquela exibição? quem sabe?
por falar nisso: ele sabe mesmo que se chama "Peixoto", ou é só a maneira, a entoação e o timbre da minha voz?
vá lá o diabo saber.
mas que o "Peixoto" não é um peixe qualquer, isso não é.

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