quarta-feira, 8 de abril de 2009

lobo na pele de cordeiro

a associação nacional de farmácias tem muita pena dos portugueses carenciados, tadinhos. numa campanha sem precedentes, propõe beneficiar, de uma só vez, os compradores de medicamentos e o Estado que os comparticipa, alterando a prescrição dos marotos dos médicos. esta ação de beneficência tem por móbil a venda de genéricos, mais baratos, em vez de medicamentos de marca, mais caros.
tudo bem, é claro. bom, não é tão claro assim.
a atividade de produção de medicamentos genéricos é um processo de parasitismo legal, tolerável até ao limite que não mate o organismo parasitado. baseia-se na produção de medicamentos com mais de dez anos de comercialização e com patente caducada.
a produção de fármacos novos é um processo lento, dispendioso, que mobiliza recursos e mentes muito qualificadas. a produção de cópias, sem despesas de investimento e sem direitos de autoria, rouba à indústria de fármacos de origem a capacidade e os meios de criação de novos medicamentos. a menos que os preços dos medicamentos novos suba em espiral. é o que se passa, hoje em dia: medicamentos genéricos cada vez mais baratos, medicamentos novos cada vez mais caros.
a indústria parasita de genéricos tem crescido como cogumelos, melhor, como uma praga. são sete cães a um osso. certamente, uma tal apetência só é possível porque os médicos prescrevem genéricos, caso contrário não haveria tanta proliferação de comensais. e de entre a chusma de parasitas, assoma agora a associação nacional de farmácias, que acha melhor parasitar os médicos também, roubar-lhes a patente da prescrição e traduzir a receita pra genéricos. e que marca de genéricos?
genéricos, sim, mas o que está por detrás da voracidade disfarçada de misericórdia é que há empresas de genéricos controladas pela associação nacional de farmácias. é, pois, uma predação disfarçada de caridade. um lobo disfarçado de cordeiro.

1 comentário:

josé cunha-oliveira disse...

Isabel, obrigado pelo seu comentário.
tive que o apagar, porque não se pode apagar só o e-mail.