sábado, 17 de março de 2012

a propósito de templo

a palavra templo implica o conceito de sagrado, podendo tratar-se de um espaço exterior organizado e simbólico mas também do espaço íntimo, interior. a sua história é tão antiga como a humanidade.
no mundo romano, para fazer a leitura dos sinais celestes, o áugure delimitava com o seu bastão um setor do céu. e nesse setor celeste, que representava e continha toda a cosmogonia, observava os fenómenos naturais, nomeadamente a passagem das aves. a esse setor do céu chamava templum
mais tarde, o templum passou a designar o lugar ou edifício sagrado onde se praticava essa observação e interpretação do céu. 
o radical indoeuropeu "tem-", de onde deriva o termo latino templum e as palavras gregas tomos (por exº, em: tomo-grafia) e temenos, contém a ideia de “cortar”, “separar”, “delimitar”, “dividir”. desde a mais remota antiguidade, pode ser um lugar ao ar livre, em bosques, em cavernas ou no alto de montes. a palavra correspondente a templum em Grego, temenos, designava o lugar reservado aos deuses, a cerca sagrada que envolvia um santuário, constituindo um lugar intocável. o templo é a habitação do divino, o lugar da Presença por excelência. 
por isso, todo o templo está em linha com o mundo celeste e representa o “centro” do mundo. o espaço nasce nele e resume-se nele. é por isso que a orientação constitui um dos elementos principais da construção do templo. ele é o resumo do macrocosmos e a imagem do microcosmos. consequentemente, é ao mesmo tempo uma imagem simbólica do cosmos, do mundo e do homem. o templo não é apenas o edifício sagrado. 
ele é símbolo de “santuário” em múltiplos sentidos, incluindo o homem que se esforça para alcançar um nível espiritual no mundo quotidiano. a sua arquitetura é uma imagem da representação que o homem faz do divino, sendo pois uma réplica terrestre dos arquétipos e da cosmogonia celestes. 
nele, construção e construtor são colocados ao mesmo nível e partilham o mesmo destino. a humanidade que se dedica a construir o templo torna-se idêntica a ele. 
no mundo latino tendia-se a confundir o que é divino, isto é, o que tem propriedades divinas, com aquilo a que chamamos substantivamente “deus”; mas para os gregos o “théos”, que traduzimos por “deus”, não é sinónimo de um “deus” substantivo, é uma propriedade das coisas ou dos lugares. diz-se que algo é “théos” porque tem propriedades divinas, faz parte do “pleroma” - a totalidade dos poderes divinos -, e não propriamente porque seja um “deus”, quer no sentido animista, quer no sentido politeista, quer no sentido monoteísta.

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