quinta-feira, 16 de outubro de 2014

a chuva e o sol


chove se deus a dá. 
não, não vou queixar-me da chuva. 

vou dizer que ouvi-la cair me faz bem. gosto da música da chuva, adoro ver chover para lá da janela. mas isso é de dia. à noite gosto é de a ouvir. 
acho que as árvores, a relva e os arbustos gostam da chuva de outra maneira, gostam de senti-la na pele, bebem-na, sorvem-na. 
pouco me importa quem anda à chuva. uns andam porque gostam. outros porque são obrigados a apanhar com ela. esses são os únicos que a detestam. 
por mim, gosto da chuva. até mesmo da sonoridade da palavra "chuva". 
ah, é claro, também gosto do sol. mas isso é de dia. de noite não dá jeito nenhum.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

sexualidade e doentes mentais

faz-me alguma confusão. uma mulher débil mental aceita um rendez-vous com um sujeito, tão pouco ou pouco mais dotado do que ela. 
como foram vistos por um curioso sensível, o pobre sujeito leva com um processo de abuso sexual. 
a mulher toma contracetivos orais para evitar engravidar em rendez-vous do género. 
falamos dos direitos dos doentes mentais a propósito de tudo e mais alguma coisa, incluindo à vida sexual. 
mas por tudo e por nada andam em bolandas com a justiça. 
macacos me mordam...

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

denúncia anónima

a denúncia anónima vem, geralmente, de alguém muito próximo, conhecedor e quiçá participante dos segredos do denunciado, alguém, que, pelas múltiplas e variantes circunstâncias da vida, se sente prejudicado, preterido ou, eventualmente, humilhado pela pessoa que denuncia.  alguém que continua a tratar o denunciado como "amigo". a desculpa para o anonimato da denúncia é basicamente a mesma: o receio das retaliações. o que, é bom de ver, acaba de acontecer com a própria denúncia.
o que têm as denúncias anónimas é que nunca são inocentes nem desprovidas de alguma espécie de motivação pessoal. o que importa não é o apuramento da "verdade", seja ela o que for, o que importa é tramar o denunciado.
as denúncias anónimas são por vezes abundantes em pormenores, porque o denunciante está muito por dentro da questão, e os factos denunciados têm a caraterística de parecerem muito mal, independentemente do seu enquadramento jurídico, ético ou moral.
mas o que a denúncia anónima nunca deveria ter é aceitabilidade. é uma cultura que deveria ser banida de uma vez por todas. denúncia anónima deveria ir, pura e simplesmente, para o lixo. quem tenha factos para revelar, quem tenha algo a denunciar que dê a cara. sempre as coisas pareceriam mais sérias e verdadeiramente mais interessadas em banir a corrupção do que, simplesmente, em dar cabo da credibilidade e da vida pública do denunciado.
é claro que isto vem a propósito de acontecimentos recentes. mas também vem a propósito de muitos outros acontecimentos mais antigos.

domingo, 10 de agosto de 2014

Hegésias de Cirene e a morte dos outros

Hegésias de Cirene achava que a felicidade é um objetivo impossível, pelo que as pessoas sensatas o melhor que têm a fazer é livrar-se da dor e do sofrimento, nada havendo melhor do que a morte. 
assim, levou muitos jovens ao suicídio. 
tendo chegado aos 80 anos da sua vida, perguntaram-lhe por que razão não fazia ele aquilo que pregava. 


a resposta não se fez esperar: 
- sou o único grego que pode conduzir os jovens ao prazer delicioso da morte. se morro, ninguém tomará o meu lugar...

Diógenes e Alexandre

certo dia, Diógenes de Sinope, aquele que empunhava uma lanterna durante o dia porque andava à procura de "um homem" [que vivesse de acordo com a sua essência], encontrou-se com Alexandre Magno, "O Conquistador".
o grande general, dominado pela grandeza do filósofo, convidou-o a que lhe pedisse o que quisesse, que o seu desejo lhe seria satisfeito.
o filósofo respondeu-lhe:
- o meu maior desejo é que saias da minha frente, porque me tiras o sol...

sexta-feira, 23 de maio de 2014

o Peixoto

a bem dizer, o peixinho vermelho não é meu, é da minha mais nova.
mas como ela só lhe liga para o ter, mais nada, sou eu que lhe dou de comer.
e até já lhe dei o nome: é o "Peixoto".
quando não tem fome não me liga nenhuma, anda pelo aquário como se nada fosse.
não sei se tem pensamentos ou sonhos ou ideias. não faço ideia do que lhe vai na cabeça. sei que se o chamo - "Peixoto!" - ele vem ter comigo e abre a boca como se quisesse falar.
parece ouvir-me atentamente. se entende ou não, é outra coisa.
mas quando está com fome, se me vê, fica excitado, mexe-se com vigor e determinação, parecendo pedir-me: "dá-me!"
vou buscar a latinha daquela mistela de asas de insetos e outras porcarias que ele adora, e logo se prepara para a refeição.
há dois dias que não lhe dava de comer.
hoje viu-me e ficou doido, pôs-se a fazer piruetas, parafusos e lúpingues. dei-lhe de comer. e continuou a fazer piruetas, parafusos e lúpingues. pensei: "está doido!"
afastei-me a ver no que dava. o espetáculo terminou.
era mesmo para mim toda aquela exibição? quem sabe?
por falar nisso: ele sabe mesmo que se chama "Peixoto", ou é só a maneira, a entoação e o timbre da minha voz?
vá lá o diabo saber.
mas que o "Peixoto" não é um peixe qualquer, isso não é.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Maria na China

Maria na China
lê poesia
de Camões e de Sofia
traquina
a Maria
arde sem se ver
entre lições e fantasia
podia ler
aquele poema
daquela musa suprema:
"ó lua que vais tão alta
redonda como um tamanco
ó Maria, traz cá a escada
que eu não lhe chego c'um banco".
Maria não,
Dona Maria
professora
s'tora,
primeira dama
de Belém e Alfama
e arredores.