quinta-feira, 15 de maio de 2008

calvinismo moral fundamentalista

vivemos numa sociedade fundamentalista, intransigente e intolerante, e é tudo.
a mim não me faz diferença nenhuma que o primeiro ministro fume no avião, na cama, na banheira ou noutro sítio qualquer. é lá com ele. os jornalistas que o acompanham é que não têm defeito nenhum, não cometem erros, não fumam, não bebem, não comem, não nada. bufam. são umas florinhas de estufa, uns beatos, uns santinhos insípidos.
mas, é claro, o senhor primeiro ministro, que é fumador, é também, o secretário geral de um partido que pariu a lei mais intransigente que alguma vez houve em Portugal, desde 1140.
mas pior que tudo isso foi o pedido de desculpas e a promessa de deixar de fumar. essa atitude seráfica de cedência, de falta de brio e de personalidade vai custar-lhe caro. calou os fundamentalistas e os jornalistas mas perdeu a face. acanhou-se. não gosto de primeiros ministros assim.
e não estaremos numa sociedade em que os pedidos de desculpa se estão a tornar demasiado vulgares?
isto escrevia eu ontem.
mas, como era de prever, os fundamentalistas não se deram por satisfeitos. querem o primeiro ministro na praça pública. querem sangue e cheiro de carne assada.
e - pasme-se a loucura em que estamos mergulhados! - vem agora o primeiro ministro indignar-se com o calvinismo moral fundamentalista daqueles que lhe não perdoam os cigarros que fumou durante o voo para Caracas.
senhor primeiro ministro, esse é o resultado dos seus namoros com essa gente, calvinista para umas coisas, laxista para outras. entre a série de leis dispensáveis a que o senhor deu o seu aval político está a lei antitabágica mais calvinista da Europa. a qual vai conduzir, inevitavelmente, a que sejamos o país do mundo com os mortos mais felizes, mais saudáveis e de melhor qualidade de vida.
mas não tem sido o senhor a abrir todas as caixas de Pandora que lhe põem na frente? agora queixa-se de quê?

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