sexta-feira, 2 de maio de 2008

cannabis sativa

o senhor presidente do instituto da droga e da toxicodependência (idt) disse publicamente que da cannabis se podia extrair compostos com poder terapêutico em determinadas circunstâncias. mas disse, também - e mal andaria se o não fizesse -, que o consumo de substâncias ilícitas com base na canabis era muito perigoso. acontece que uma faixa influente da população, nomeadamente aqueles que fazem publicar e transmitir as notícias, fazem gala em perceber apenas metade da questão. raro é o jornal que não diga que o presidente do idt admitiu pela primeira vez os possíveis benefícios terapêuticos da canabis, fazendo-se de novas quanto ao essencial da mensagem: os perigos do consumo de substâncias ilícitas com base na cannabis sativa.
gostava muito de saber a quem aproveita esta mistificação.
imaginemos que o senhor presidente do idt admitia - e bem poderia fazê-lo - as virtudes terapêuticas da dedaleira, do estramónio e da Rauwolfphia Mirabilis. são plantas com um interesse terapêutico muito superior ao dos canabinóides extraíveis da canabis. mas se o dissesse, não estava com isso a autorizar o consumo dito recreativo de derivados dessas plantas. porque são, antes do mais, prosaicamente, venenosas.
então porquê esta mania de tentar meter pela nossa cabeça dentro as maravilhosas propriedades terapêuticas da canabis?
antes do mais, uma coisa são canabinóides, outra coisa é o haxixe, a marijuana, o kif, o chocolate.
os primeiros têm relativas propriedades terapêuticas, de interesse pouco mais que secundário. se o verdadeiro interesse fossem as propriedades terapêuticas da canabis, ninguém falaria disso, tão secundárias e até ridículas são essas propriedades terapêuticas. porém, o verdadeiro interesse é outro: tem propriedades terapêuticas, logo deve legalizar-se o consumo de canabis.
cá por mim, se a canabis tem propriedades terapêuticas, deveria era ser prescrita com receita médica e vendida nas farmácias. como os digitálicos, o estramónio e a reserpina. e nunca na rua ou nas discotecas.
e já agora, por mais que vejamos no dia a dia da profissão psiquiátrica os efeitos deletérios da canabis, com psicoses catastróficas e final apático e abúlico, é difícil fazer o diagnóstico e mantê-lo, tantos são os obstáculos ideológicos à constatação da realidade evidente.
propriedades terapêuticas da canabis? boa sorte!

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