sábado, 3 de novembro de 2012

ai aguentou, aguentou...


o moleiro tinha um burro. e meteu-se-lhe em cabeça ao moleiro que o burro comia demais para o que trabalhava. embora o burro, coitado, não comesse mais, nem sequer tanto, que os burros da concorrência. vai daí, o moleiro achou, na sua sabed
oria de algibeira, que melhor seria cortar na ração do burro, pois que cortando na ração do burro, teria maior lucro. e o burro aguentou? ai aguentou, aguentou...então o moleiro achou ainda melhor obrigar o burro a trabalhar dias seguidos, sem domingos nem feriados e mais horas por dia. e o burro aguentou? ai aguentou, aguentou...
aí o moleiro achou melhor insistir na dose e cortou de novo na ração do burro. aí o burro começou a definhar, a emagrecer, de uma elegância nunca vista. e o moleiro rejubilou: "bem vistas as coisas, o meu burro sofria de obesidade, agora que está mais magrinho até vai viver mais tempo. isto não podia correr melhor...". 
e o burro aguentou? ai aguentou, aguentou.
até que certo dia, de manhã, quando foi buscar o burro pro trabalho, o burro nem concordou nem discordou. estava simplesmente ali, absorto, de olhos perdidos no infinito. o moleiro, para castigo, cortou-lhe um pouco mais ainda na ração.
e desta vez o burro já não aguentou. e o moleiro, sem burro e sem explicação para tão estranho fenómeno, morreu de fome e de burrice.


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