sexta-feira, 2 de março de 2007

as causas das coisas

admiro-me, sinceramente, com as descobertas da ciência. não falo da tecnologia, refiro-me à ciência. estou estantío, abismado. afinal, o mundo não foi criado do nada pela ação de deus. com uma ingenuidade de morrer, foi criado do nada pelo big-bang. meus senhores, não serão uma e outra teoria a mesma coisa?
deus e big-bang não são duas palavras mágicas, com mesma magia (ou falta dela) e outra tanta hominidade?
o mesmo com a biologia molecular. andam por aí a dizer que a biologia molecular é um passo de gigante na descoberta da origem da vida. será? ou será que estamos exatamente no mesmo ponto? quero eu dizer na minha: o que é que mais uma explicação traz de novo à compreensão?
não avançamos nada em relação ao paradoxo das aulas de filosofia dos meus anos de estudante adolescente: "todas as causas têm uma causa precedente". "nada pode acontecer sem uma causa". "qual foi a causa primeira? "uma causa que não teve causa". "uma causa que é causa de si própria!". "deus!" - dizem uns. "o big-bang!" - dizem os mais up-to-date. ambos convencidos da mesma coisa: "há uma causa que escapa ao irrevogável destino das causas: terem uma causa". afinal de contas, um privilégio que não o pode ter o universo - vá lá o diabo saber por quê.
perdi tempo demais a descobrir aquilo que os nossos antergos já sabiam de cor e salteado: que o mundo, a natureza, é um mistério, um acontecimento por si mesmo, uma inteligência intrínseca e interna, um conjunto coerente de leis e de destinos. e que nós, os humanos, não temos inteligência que chegue para o abarcar. nem sequer topamos (eu também não) que tudo se resume a Einstein, mais coisa menos coisa: E=mc2. e desta equação, que não tem pai nem mãe, que existe porque sim, deriva tudo quanto há para derivar: mais matéria, menos energia; menos energia, mais matéria. desde sempre e para sempre.
chega para dar razão aos antigos, aos que viam na natureza a verdadeira mãe. e que, candidamente, lhe prestavam o devido carinho e lhe pediam abrigo e proteção.
não avançámos nada. estamos no mesmo sítio. só inventámos palavras novas.
e já nem sequer somos feiticeiros, porque já não passamos de aprendizes.


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