segunda-feira, 8 de setembro de 2008

descobrir a pólvora

todos os dias somos bombardeados com a descoberta de um novo gene. agora foi a vez do gene da fidelidade conjugal masculina. apetece-me perguntar: - cadê o gene da fidelidade conjugal feminina? estudaram a coisa no rato, mas penso que devem, de seguida e já, fazer o mesmo na rata. o vocabulário vernáculo está cheio de cornos e cornudos, epíteto que se dirige ao homem atingido pela infidelidade feminina. o inverso não tem designação vernácula conhecida, talvez por força de uma cultura que o feminismo ainda não conseguiu erradicar.
além do mais, a coisa tem o seu ar démodé, pois nem sequer contempla a infidelidade gay e lésbica, que, segundo se queixam, é muito pior e mais dramática. e, já agora, tamém não trata da conhecida infidelidade humana a todos os compromissos em geral.
mas, enfim, a estonteante descoberta sueco-americana é uma forma de começar a pesquisa de tão momentoso tema.
o que assusta não é isso. a infidelidade é própria do ser humano, da sua forma forma de ser e de estar, desde o princípio dos tempos. faz parte de uma predestinação biológica que o homem tem tentado corrigir com educação, regras e leis, usos e costumes, que tornam mais humana a sociedade e permitem a tradição, a civilização e a cultura.
o que assusta neste contínuo descobrir o que todos já sabemos é a tentativa de negar a sociedade, a civilização e a cultura.
mas, afinal de contas, o que significa ser genético? significa, simplesmente, ser coisa da massa de que somos feitos. nós somos assim. mas somos mais do que isso. aspiramos à melhoria de nós mesmos. criamos tradição, usos e costumes, civilização e cultura, que fazem de nós algo mais que ratos da pradaria.
se a genética veio para explicar as nossas imperfeições, muito bem. mas vem descobrir o que já está descoberto. se veio para nos desculpar, é preciso cuidado: pode explicar por que razão matamos, roubamos e somos tão cruéis e corruptos.
mas se a genética veio para mudar o homem, a coisa fia fino: mudam-nos os genes, como quem muda os chipes? era esse o sonho alemão dos anos 30.
foram as nossas imperfeições a razão de ser de civilizações e da própria história. se nos tornarem perfeitos morrem as leis, a arte e a política. morre a humanidade, porque deixa de haver o que dizer sobre ela. e tornamo-nos robôs sem alma e sem alento.

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