terça-feira, 16 de setembro de 2008

o mago

certo dia tirei-me de clichés e preconceitos e fui visitar a casa-museu de um feiticeiro reformado, ali para as bandas de Lugo. o home acolheu-nos de boa mente e logo começou o foguetório das suas artes. que tinha 300 anos de vida, que era capaz de voar, enfim. enquanto ele exibia as suas gabanças, acompanhadas de vasta coleção de fotos e artigos de jornais, eu passava os olhos pelo estendal de ervas, patas de insetos e bichos repelentes, mezinhas, poções, pós, potes e almofarizes, receitas e esconjuros, livros da melhor gente da cultura e das artes: um museu a sério.
e eu bebia na fonte o que a bica botava.
vendo-me interessado e curioso, o home mandou-me uma estocada e quase me atira ao tapete:
- sabes de onde vem o meu poder?
fiquei sem resposta, ante tantas hipóteses que me passavam pola mente. após um interlúdio já estudado, respondeu à própria pergunta rapando do boné que trazia na cabeça e pondo-me a testa dele na frente dos meus olhos:

- daqui!
e mostra um par de corninhos, um de cada lado da testa, quase simétricos, que trazia recatados no seu boné.

a Bíblia passou-se-me de repente pelos olhos de dentro: tamém a Moisés o pintam com uns cornos assim!

aí, passei ao contra-ataque:

- Manolo, cando eu entrei ali pola porta vi cousas de Deus ao lado direito e cousas do Diabo na vitrine da esquerda...

- ...e sabes porquê? - perguntou triunfante.
- ora, respondi eu, a porta da tua casa é como entrar dentro da gente. Deus e o Diabo fazem parte da nossa natureza!

a reação do home foi de incredulidade. olhou pra mim de cima abaixo e perguntou:
- tu que fazes? és vidente? filósofo?
- gosto de entender as pessoas, só isso.

quem ia comigo já não aturava mais a conversa e deu coa língua nos dentes:
- ele é psiquiatra!

fiz uma cara de zangado, mas o mal estava feito.

a conversa mudou de figura. o impressionante feiticeiro entrou em confissão. contou como tudo começara, ainda jovem. cousas difíceis de entender se tinham passado co ele. chegavam-lhe de outros mundos vozes e influências. andara polos médicos, sem que lhe dessem solução às dúvidas, incertezas, enigmas e temores. começou a frequentar congressos de medicina, de literatura e de cultura e arte, procurando respostas. tornou-se amigo de figuras de renome e influência.
a fama dos seus contactos com experiências além do real fez que o procurassem cada vez mais e de mais longe. a resposta encontrou-a ajudando os outros.

hoje é ele mesmo um museu na sua terra.

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