sexta-feira, 3 de outubro de 2008

o descasamento

a solene comitiva dirige-se ao altar. pola porta da igreja entram os consortes, seguidos dos meninos dos anéis, padrinhos demissionários, familiares e vasta cópia de amigos. chega o padre, o sacristão e os acólitos. começa a cerimónia. no coração dos rituais, o clérigo dirige-se aos consortes.

primeiro a ele:
- pensou bem no ato que vai realizar. é de sua própria e livre vontade que reconhece por sua ex-mulher a sua esposa aqui presente? e que ela possa fazer da vida dela aquilo que lhe der na real gana?
- sim, padre - respondeu o home.
seguidamente à mulher:
- pensou bem no ato que vai realizar. é de sua própria e livre vontade que reconhece por seu ex-marido o seu home aqui presente? e que ele possa fazer da vida dele aquilo que lhe der na real gana?
- sim, padre - respondeu a mulher.
- sendo assim, e sendo essa a vossa firme e livre vontade, que Deus separe o que Deus uniu e que nenhum homem ou mulher interfira com a vontade de Deus. ite, missa est.
do mesmo jeito que chegou, a comitiva organizada abandona o templo. à porta larga, sai à direita o ex-consorte, a menina do anel, os ex-padrinhos, familiares e amigos. à esquerda sai a ex-casada, o menino do anel, os ex-padrinhos, familiares e amigos.
cada uma das comitivas segue a caminho da respetiva boda. comem e bebem, cantam e dançam até de madrugada. a alegria transborda e inunda os corações. enfim livres!
no dia seguinte, passada a ressaca, tem lugar a festa de despedida de casados.
os filhos do ex-casal transbordam de felicidade: pela primeira vez, assistem a uma cerimónia de seus pais.
termina aqui um conto de fadas. e aqui começa uma outra estória.

os pais, esses, cada qual com sua nova companhia, planeiam, criativamente, um novo casamento.

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